Livro O Outro & Eu
''O amor é uma confissão corajosa.''
– Gutto Erkin Pyx
O ELOGIO DO OUTRO
o amor, o outro & eu
É tão fácil dizer a uma mulher:
— Você é linda!
É tão fácil dizer a um homem:
— Você é o cara!
Quantas vezes dizemos ou nos dizem:
— Você é amorosa (o)!
Você é generosa (o)!
Você é corajosa (o)!
Você é autêntica (o)! (?)
Quantas são as qualidades e elogios não ditos como se apenas nos fosse compreensível ser linda ou ser o cara?
Isto nos basta? nos resume? será falta de vocabulário? ou de coragem? Que adjetivos você diria ao outro, e se diria diante do espelho?
A diferença entre o que você dá ao mundo e o que ele lhe devolve, determina o que você pode esperar dele. A diferença entre o que o mundo lhe dá e o que você retribui, determina o que ele pode esperar de você. Nesta equação, tanto para dar como para receber, será preciso o outro.
A DOR DO AMOR
Aqueles a quem amamos merecem tudo de bom.
Assim desejamos aos que amamos.
Dói, porém, não podermos dar tudo.
Dor de impotência, pequenez,
remorso e compaixão.
Então, me dirão:
— Para quem tem amor, tudo é possível.
Eu responderei:
Amor dói, não porque não o tenhamos.
Por mais que façamos por quem amamos, amor dói porque nada nos parece suficiente e à altura deste amor.
É quando o amor cai na caixinha da culpa.
Disseram que o amor é dor. Platão teve essa sacada, de que amamos o que nos falta. E muita gente acreditou. Eu também acreditei, porque às vezes, ao pensar em alguém, dói. Mas ao estudar um pouquinho, aprendi que o amor é como o odor. Temos em nosso organismo uma quantidade limitada de receptores que traduzem ao cérebro as moléculas de odor. Existem muito mais odores do que podemos identificar, assim como existem frequências de som e de luz que nossos sentidos também não podem alcançar. Para cada molécula de odor, deve existir um receptor específico. Quando uma molécula de odor não encontra um receptor equivalente devido à nossa limitação, sentimos o cheiro de uma coisa em outra. – Em analogia com as moléculas de odor que não encontram receptores correspondentes, concluo que o amor dói, mas não deveria ser dor. Nós é que não desenvolvemos ainda o receptor certo do amor para traduzi-lo em nosso cérebro. Em vez de cair na caixinha receptora de amor, ele cai na caixinha da dor. Sentimos o amor como dor, assim como sentimos o cheiro de uma coisa em outra. Os camundongos cheiram mais e os cães ouvem mais do que nós. É possível que todos tenhamos a mesma capacidade de amar, mas alguns a sintam mais do que outros. Alguns sentem mais a luz, o som, o cheiro e o amor, e quanto mais sentem amor, mais sentem o que parece dor. Quanto a amar o que nos falta, desculpe-me, Platão, mas isso não é amor; é obsessão.
Leve a sério quem te leva a sério e terão um ao outro para rirem e chorarem juntos.