Se nos colocarmos a criticar, encontraremos motivos para discordância em tudo o que compõe nosso sistema geral de vida; nos transformaremos em reclamões. Poderemos até nos distanciar um pouco da idiotice coletiva resultante do positivismo hedonista implantado no mundo no decorrer de um século, mas, ao escaparmos de um sistema, despencaremos em outro; continuaremos de certo modo idiotas, porém, idiotas conscientes, sentindo-nos relativamente libertos de diversas imposições sociais, e tristes por sabermos que, apesar de imunizados dos modelos comportamentais estratificadores, algum braço do sistema nos agarrará de uma forma ou de outra. O resultado será o ressentimento sem fim, a menos que nos reconciliemos com a impossibilidade de mudar o mundo ao mesmo tempo em que façamos o possível para nos adequarmos sem nos entregarmos totalmente a ele, equacionando com discernimento e ética um caminho para sermos autênticos mas não alienados; integrados mas não idiotas; conscientes mas não destruídos pela decepção com a face ruim do mundo. Decepção que nos distancia também dos seus sorrisos e encontros, sem os quais a vida social torna-se insuportável. Não vale a pena desperdiçar vida apenas contestando seus contextos, se junto da consciência das sombras não vier uma luz, o que significa parar de reclamar, tanto quanto de aceitar, idealizar, fantasiar e esperar, se, ao fazê-los, em nada mudarmos a mentalidade que promoverá alguma transformação.
Gutto Erkin Pyx